Por Laura MacInnis e Robin Pomeroy
GENEBRA (Reuters) - Persistiram na quinta-feira, pelo quarto dia consecutivo, as profundas diferenças entre países ricos e pobres a respeito de como concluir a chamada Rodada de Doha da abertura comercial global.
Na quarta-feira, o debate entrou pela madrugada, e nas próximas horas os diplomatas devem decidir se faz sentido continuar tentando.
“Ainda vejo grandes divergências. Vamos ver durante o dia se é possível preencher tais lacunas”, disse o negociador argentino, Néstor Stancanelli, ao chegar para a rodada de quinta-feira na sede da Organização Mundial do Comércio, às margens do lago Genebra.
O evento está previsto para durar até sábado, mas os envolvidos dizem que ou as negociações desmoronam antes, ou serão prorrogadas até a semana que vem.
Um dos principais entraves à conclusão da Rodada de Doha, lançada em 2001 no Catar, é a redução de subsídios e tarifas agrícolas nos países desenvolvidos, o que permitiria ao Terceiro Mundo ampliar suas exportações e reduzir a pobreza.
Os EUA e a União Européia já fizeram ofertas para reduzir tarifas e subsídios agrícolas, mas pressionam os países emergentes, como Brasil e Índia, a se abrirem mais para serviços e produtos industriais.
Analistas dizem que a Rodada de Doha precisa ser concluída ainda neste mês, sob o risco de ser posteriormente atropelada pela mudança no comando da Casa Branca e da Comissão Européia.
Na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aconselhou os EUA e a UE a melhorarem suas ofertas agrícolas, sob pena de colocar todo o processo a perder.
“Se não houver uma efetiva diminuição dos subsídios dos Estados Unidos e se não houver uma efetiva flexibilização para o mercado agrícola dos europeus, não tem acordo e cada um que arque com a sua responsabilidade”, disse ele à imprensa brasileira.
A representante comercial dos EUA, Susan Schwab, pediu aos países em desenvolvimento que apresentem novas ofertas em contrapartida à proposta dos EUA que limita a 15 bilhões de dólares anuais os subsídios para seus produtores rurais. Muitos países em desenvolvimento ainda acham essa cifra elevada demais.
Sem entrar em detalhes, Schwab disse a alguns participantes da conferência que houve “poucos progressos” na sessão de quarta-feira à noite.
Os ministros de Austrália, Brasil, China, União Européia, Índia, Japão e Estados Unidos devem se reunir novamente na tarde de quinta-feira.
“Coletivamente, achamos que vale a pena continuar fazendo um esforço, porque houve algum progresso. Há dificuldades também”, disse o chanceler brasileiro, Celso Amorim.
Reportagem adicional de William Schomberg e Jonathan Lynn