Por Maria Golovnina
MOSCOU, 3 de março (Reuters) - O presidente-eleito da Rússia, Dmitry Medvedev, prometeu na segunda-feira manter as políticas de seu mentor e antecessor, Vladimir Putin, cujo apoio lhe garantiu uma folgada vitória na eleição de domingo, apesar de o caráter democrático do pleito ter sido questionado por observadores ocidentais.
Ilustrando o “duplo governo” que aguarda a Rússia, Medvedev ficou ao lado de Putin no palanque do show de rock que celebrou o resultado na Praça Vermelha, logo após a divulgação dos resultados oficiais.
Com 99,45 por cento dos votos apurados, Medvedev tinha 70,23 por cento, segundo a Comissão Eleitoral Central. O comparecimento foi elevado, o que levou Medvedev a ter uma votação mais expressiva do que a de Putin em 2004 - 52 milhões contra 49,6 milhões de votos.
O comunista Gennady Zyuganov ficou em segundo lugar, com 17,76 por cento dos votos.
Andreas Gross, chefe de um grupo ocidental de monitores, disse que o resultado reflete a vontade popular, mas que a votação foi insatisfatória em vários quesitos.
“Acreditamos que não tenha havido liberdade nestas eleições”, disse ele a jornalistas. “Os resultados da eleição presidencial são um reflexo do desejo de um eleitorado cujo potencial democrático infelizmente não foi aproveitado.”
Medvedev, de 42 anos, será o mais jovem líder russo desde a ascensão do czar Nicolau 2o ao trono. Ele toma posse em 7 de maio e já convidou Putin para ser seu primeiro-ministro. O atual presidente, de 55 anos, era proibido pela Constituição de disputar um terceiro mandato.
“Acho que (meu governo) será uma continuação direta (do de Putin)”, afirmou Medvedev, hoje vice-premiê. Os oito anos dos dois mandatos de Putin foram marcados por uma concentração de poderes no Kremlin e pela disposição em se contrapor à política externa Ocidental.
Num sinal de que tal contraposição deve se manter, a estatal Gazprom reduziu o fornecimento de gás à Ucrânia por causa de uma dívida. O fato preocupa a Europa Ocidental, que depende do gás russo.
Putin e Medvedev dizem que vão respeitar a Constituição, que dá ao presidente o controle sobre a política externa e os “ministérios de poder”, como Defesa e Serviços de Segurança, enquanto ao primeiro-ministro cabe zelar pela economia e os serviços sociais.
Mas na prática não está claro quem realmente vai mandar neste enorme país, e analistas questionam se o compartilhamento de poderes vai funcionar durante muito tempo em uma nação acostumada a ter um único líder forte.
A Rússia vive o seu período de maior prosperidade em várias décadas, graças aos preços elevados do petróleo que é exportado. Muitos russos vêem Medvedev como herdeiro natural de Putin e, como tal, o homem ideal para manter a boa fase econômica.
Reportagem adicional de Chris Baldwin, Denis Dyomkin, Conor Sweeney, Gleb Bryanski, Anton Doroshev e Guy Faulconbridge em Moscou