Por Silvio Cascione
SÃO PAULO, 3 de outubro (Reuters) - A redução do expressivo ingresso de dólares no país justifica a interrupção das compras do Banco Central no mercado à vista, mas a recuperação do fluxo no final de setembro não garante a retomada das atuações, segundo analistas.
Nesta quarta-feira, o BC informou que o fluxo cambial líquido foi negativo em 3 milhões de dólares em setembro.
Apesar do primeiro resultado deficitário do ano, o número final mostrou uma forte recuperação ao longo do mês —já que até o dia 19 o fluxo era negativo em mais de 1 bilhão de dólares.
“O BC sempre fala que procura atuar no mercado cambial tendo em vista o fluxo, a liquidez”, lembrou Antonio Madeira, economista-chefe da MCM Consultores, para quem o vertiginoso fluxo positivo do primeiro semestre não será restaurado mesmo com a redução da turbulência no exterior e um possível novo corte do juro nos Estados Unidos.
“Acredito que o BC ainda pode ficar de férias”, brincou.
A oferta de dólares ao Brasil começou a recuar no final de julho, com o agravamento da crise de crédito no exterior. Na metade de agosto, com o avanço das cotações da moeda norte-americana, o BC deixou de realizar os leilões de compra que vinham sendo feitos diariamente havia quase um ano.
Massaru Nakayasu, economista-chefe do Banco de Tokyo-Mitsubishi, também é cético quanto à volta do BC ao mercado à vista.
Para ele, a maior cautela dos investidores e a gradativa diminuição do superávit comercial vão manter a entrada de dólares em um nível mais baixo até o final do ano.
“E normalmente no final do ano começa a sair mais dinheiro... O pagamento de lucros e dividendos, que tem todo mês, se concentra também”, acrescentou.
Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, concorda que o fluxo não justifica a atuação do BC, mas ressalva o atual patamar do câmbio.
Segundo ele, o dólar —que chegou na segunda-feira ao menor nível desde agosto de 2000— pode atrair o BC às compras.
“O que impressiona é que o número (de fluxo) não é tão grande para o tamanho da queda da taxa... Existem fatores à margem do mercado (à vista) que o induz a trabalhar na linha da baixa”, comentou, em referência às apostas no mercado futuro pela queda da moeda norte-americana.