Por Silvio Cascione
SÃO PAULO, 12 de março (Reuters) - O dólar subia nesta quarta-feira, com o mercado à espera de um pacote cambial estudado pelo governo para conter a valorização da moeda brasileira.
Em clima de expectativa, os investidores monitoravam a volatilidade dos mercados estrangeiros, que ainda repercutem a crise nos Estados Unidos e o socorro anunciado na véspera pelos bancos centrais ao sistema financeiro.
Às 10h50, o dólar BRBY subia 0,48 por cento, para 1,692 real. Na terça-feira, com a reação positiva em todo mundo à ação dos BCs, a moeda norte-americana caiu 1,35 por cento.
“Olho vivo no mercado externo”, resumiu Júlio César Vogeler, operador de câmbio da corretora Didier Levy. É preciso “acompanhar os números que vão sair e aguardar a volatilidade”.
As bolsas de valores em Nova York operavam perto do zero a zero nesta quarta-feira, um dia após os índices Dow Jones .DJI e Nasdaq .IXIC terem registrado a maior alta percentual diária desde março de 2003.
Enquanto isso, segue a especulação no mercado sobre os possíveis passos do governo para brecar a queda do dólar.
Na noite de terça-feira, uma fonte do Ministério da Fazenda confirmou que o anúncio de medidas poderia ser feito nesta quarta-feira, com a possibilidade de uma reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional (CMN).
“As avaliações mais aprofundadas só serão possíveis depois que as eventuais medidas forem anunciadas. Enquanto isso, as especulações vão continuar, o que pode fazer com que as taxas fiquem pressionadas e voláteis”, escreveu Miriam Tavares, diretora da corretora AGK, em relatório.
POUCA EFICÁCIA
Entre as medidas mais comentadas estão o fim da exigência da cobertura cambial aos exportadores e alguma tributação sobre o investimento estrangeiro em títulos públicos.
Mas a avaliação corrente na maior parte do mercado é a de que o possível pacote terá efeito apenas limitado sobre a cotação do dólar.
“Um dos fatores importantes que tem contribuído para a valorização do real é o elevadíssimo diferencial de juros”, comentou Miriam. A taxa básica de juros no Brasil tem se mantido em 11,25 por cento ao ano, enquanto a norte-americana, em trajetória de queda, está em 3,0 por cento.
Sobre o fim da cobertura cambial, a maior parte dos analistas avalia que é um passo importante para facilitar o trabalho dos exportadores, que não teriam mais que trazer, obrigatoriamente, parte dos dólares obtidos no exterior.
“Estaria na direção correta de reduzir o custo das transações no mercado de câmbio, mas provavelmente não será um impedimento obrigatório sobre o fluxo de câmbio”, avaliou Zeina Latif, economista do ABN Amro, também em relatório.
A tributação de estrangeiros, porém, enfrenta resistência no mercado. “Seria um tiro no pé”, disse Vogeler. Para a economista do ABN, a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), como chegou a ser especulado, “pode ter algum impacto sobre a moeda, mas isso tende a se esvair rapidamente.”
Edição de Daniela Machado