PEQUIM (Reuters) - Cidadãos chineses estão ultrajados com o debate internacional relacionando os protestos no Tibet com os Jogos Olímpicos deste ano em Pequim. Eles acusam os estrangeiros de tentaram ofuscar o evento.
Em conversas privadas ou na Internet, os chineses afirmam que a mídia estrangeira distorceu os incidentes na região do Tibet e os associaram de maneira equivocada ao direito e à habilidade de Pequim de sediar o evento esportivo neste ano.
“O Tibet é um assunto doméstico, e a Olimpíada é um evento internacional, eles não deviam ser misturados”, disse Lin Yi, 24, estudante de graduação na Universidade de Pequim. “Grupos estrangeiros de defesa dos direitos humanos estão usando o Tibet para prejudicar a Olimpíada.”
A China culpa o líder espiritual tibetano, Dalai Lama, que vive exilado na Índia, pela violência na capital do Tibet, Lhasa, e nas regiões vizinhas.
A situação no Tibet também se tornou motivo de crítica ao governo comunista chinês antes dos Jogos de Pequim, que pretende usar o evento para mostrar os progressos da quarta maior economia do mundo.
Líderes de França, Taiwan e de outros lugares chegaram a levantar a possibilidade de um boicote aos Jogos por causa das tensões no Tibet, após preocupações similares levantadas por grupos de defesa dos direitos humanos sediados no exterior. O governo tibetano no exílio estima 140 mortes em consequência da violência.
“Toda a notícia sobre o Tibet menciona a Olimpíada”, disse Shi Yinhong, professor de relações internacionais na Universidade Renmin, na China. “Esses dois itens não estão relacionados, mas a imprensa sempre faz a ligação.”
A primeira parte do revezamento da tocha olímpica, que começou nessa semana na Grécia, já tem sido marcado por protestos pró-Tibet. Depois da chegada da chama olímpica a Pequim, em 31 de março, uma segunda tocha será acesa e levada ao Tibet.
Mas os Jogos de Pequim, que acontecerão entre 8 e 24 de agosto, não pode escapar da questão tibetana, na visão de Sharon Hom, diretora-executiva da Human Rights in China, que considera que os dois assuntos envolvem questões de liberdade de imprensa.
“A máquina de propaganda chinesa está tentando retratar a China como uma sociedade livre e aberta, e esse claramente não é o caso”, disse Hom no escritório de seu grupo em Nova York. Ela aponta o controle à imprensa local e a falta de acesso da imprensa estrangeira ao Tibet.
Para Hom, a China é conhecida por inflamar o nacionalismo culpando os estrangeiros por problemas domésticos, ao mesmo tempo que esconde suas questões internas. “A China sempre fez isso”, afirmou. “Eles sempre põem a culpa de dissensões internas em forças de fora.”