SÃO PAULO (Reuters) - O mercado de dívida para empresas brasileiras deve começar 2015 quase parado, com captações denominadas em reais e mais restrito à demanda de recursos dos setores elétrico e de infraestrutura para investimentos, previu nesta quarta-feira a Anbima.
“Todos os clientes estão revendo planos de investimento para captar apenas o que for necessário”, afirmou a diretora da entidade que representa as instituições do mercado financeiro Carolina Lacerda, em teleconferência com jornalistas.
Companhias que neste ano venceram licitações para construção e operação de obras como aeroportos e estradas ou aquelas envolvidas em grandes obras ligadas ao fornecimento de energia elétrica tendem a ser as líderes em captações.
Segundo a executiva, apenas uma virada das expectativas em relação ao futuro do país fará com o desempenho no mercado de capitais brasileiro seja melhor do que em 2014, quando as operações de janeiro a dezembro envolvendo debêntures, notas promissórias e ações, entre outros instrumentos, somaram 132,1 bilhões de reais, ante 135,5 bilhões de reais de igual etapa do ano passado.
Isoladamente, o mercado de ações teve declínio de 24,6 por cento, a 15,4 bilhões de reais, com apenas 3 operações.
No segmento de renda fixa houve alta de 1,5 por cento, a 116,7 bilhões de reais. Mesmo assim, registrou piora no perfil das operações, com aumento das taxas pagas e redução de prazos.
As debêntures, por exemplo, mais usadas para captações de períodos mais longos, tiveram recuo. Já as notas promissórias, com vencimento de até um ano, cresceram e sua participação no conjunto é a maior desde 2009.
Considerando apenas novembro, as emissões domésticas de renda fixa desabaram 74,3 por cento, a 1,6 bilhão de reais.
As captações de empresas nacionais em moedas estrangeiras, que somaram 45,5 bilhões de dólares nos primeiros 11 meses de 2014, também não devem repetir o desempenho em 2015, segundo a diretora da Anbima.
Para Carolina, a recente desvalorização do real e a perspectiva de que esse movimento deve se prolongar nos próximos meses, dada a expectativa de aumento do juro nos Estados Unidos, tende a desestimular as empresas do país a buscar o mercado externo.
“Ninguém quer assumir volatilidade do dólar agora”, disse.
A executiva afirmou que um elemento adicional de pressão sobre o mercado de dívida são as investigações de denúncia de corrupção na Petrobras, o que tende a tirar do mercado uma da empresas mais ativas.
“A Petrobras tem outras prioridades no momento”, disse ela.
Por Aluísio Alves