Por Taís Fuoco
SÃO PAULO (Reuters) - Apesar do forte crescimento na base de assinantes ao longo de todos os meses deste ano, o setor de telefonia celular parece estar absorvendo a lição do controle de custos para crescer com rentabilidade.
O destaque do terceiro trimestre foi, segundo analistas ouvidos pela Reuters, a Vivo, que apesar de estar em um ano de investimento recorde em sua história e de manter a liderança em número de clientes, surpreendeu ao mostrar um lucro líquido quase 30 vezes maior que no mesmo intervalo de 2007.
“O resultado da Vivo surpreendeu. O destaque foi a rentabilidade operacional e o controle de custos”, disse Luciana Leocadio, analista da Ativa Corretora.
Segundo ela, as demais celulares também foram bem no trimestre encerrado em setembro e todas caminham com a mesma idéia — recuperar a margem—, “mas nem todas estão conseguindo”, disse a analista.
A receita de serviços da Vivo cresceu 28 por cento, enquanto as despesas cresceram metade, ou 14 por cento, sobre igual trimestre do ano passado.
A dívida da companhia cresceu diante dos investimentos programados de mais de 6 bilhões de reais neste ano, montante que inclui a compra das licenças e a implantação da rede de terceira geração, além da compra da Telemig Celular e da implantação da estrutura em seis Estados do Nordeste, Pelotas (RS) e Franca (SP), com a qual completa a cobertura nacional.
Os analistas também citaram a TIM como exemplo de que as celulares decidiram colocar o controle de custos à frente da ânsia por novos usuários.
A companhia reverteu prejuízos com um lucro de 22,5 milhões de reais entre julho e setembro deste ano, reduzindo custo de aquisição de clientes e a provisão para devedores duvidosos
“A TIM conseguiu resultados muito melhorres, mas ainda acho que os níveis de PDD estão altos”, ponderou o analista Alex Pardellas, da Banif.
A Vivo também foi destaque na sua avaliação. “Eu esperava resultados bons, mas eles foram muito além”, afirmou o analista da Banif.
Em agosto, a TIM perdeu a segunda posição em número de clientes no Brasil para a Claro. Alguns números da Claro, que possui capital fechado no Brasil, podem ser vistos no balanço da controladora mexicana América Móvil.
O balanço mostra uma geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações (Ebitda em inglês) de 673 milhões de reais para a operadora brasileira, uma alta de 6 por cento sobre o resultado do terceiro trimestre de 2007.
A margem Ebitda da Claro, no entanto, caiu 2,2 pontos percentuais, para 22,8 por cento das receitas, e a controladora explica, no demonstrativo, que a queda se deveu ao custo de aquisição de clientes, que não é divulgado.
Já o lucro operacional antes de impostos da empresa (Ebit em inglês) cresceu mais de 25 vezes, para 103 milhões de reais, ante os 4 milhões de reais registrados um ano antes.
A Oi, por sua vez, mesmo diante da agressividade para entrar no mercado paulista neste segundo semestre, manteve a margem Ebitda da operação móvel inalterada em 33,2 por cento das receitas, de acordo com o balanço.
O lucro líquido da divisão de celular da Oi, no entanto, saltou 68,5 por cento, para 155 milhões de reais, segundo a Oi.
Já o balanço da Brasil Telecom mostra a duplicação da margem Ebitda da operação móvel no ano, para 14,7 por cento das receitas, ainda que o índice seja bem inferior às suas concorrentes.
De qualquer forma, os analistas salientam que, no caso de operadoras que têm telefonia fixa e móvel, fica difícil comparar com aquelas que só atuam no celular, como Vivo e TIM.
Os analistas não esperam redução do nível de crescimento ou problemas de crédito no último trimestre do ano, tradicionalmente o mais aquecido para o comércio.
Pardellas lembra que as operadoras estão estreando em novas áreas — Vivo no Nordeste e Oi em São Paulo — e que ainda não há sinais de retração no crédito ao consumidor.
“O mercado poderá sentir mais (esses efeitos) no ano que vem”, disse ele.
A opinião é compartilhada por Luciana, ainda que ela espere algum “efeito câmbio” no preço dos aparelhos celulares. “Não deve ter falta de crédito neste trimestre”, afirmou.
Até setembro, o Brasil acumulava 140,788 milhões de usuários de celular, volume 25 por cento maior que em setembro de 2007. O país já adicionou 19,8 milhões de novas linhas neste ano.